segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A batalha morro acima do PSDB e um possível efeito-bumerangue da condenação e inabilitação de Lula

Desde 1994, quando o PSDB conquistou a hegemonia no campo que ocupa as faixas do meio para a direita, tem sido possível prever com razoável certeza o desfecho das corridas presidenciais: um tucano contra um petista. Na esquerda, a hegemonia está definida desde 1989, quando Lula superou Brizola por diferença estreitíssima e foi ao segundo turno.

Há perturbações de tempos em tempos. A rejeição ao governo Fernando Henrique fez Serra passar aperto com Garotinho e Ciro em 2002. Marina apareceu com votos em 2010, e ameaçou Aécio em 2014. Mas no fim a inércia acabou impondo-se e a disputa sempre convergiu para a polarização entre vermelhos e azuis.

Lula e o PT consolidaram a liderança absoluta em seu campo quando, no governo, conquistaram os pobres e o Nordeste. Há pobres e “nordestes” espalhados por todo o país. E, até o impeachment de Dilma, o PSDB vinha sacando confortavelmente da conta aberta quando Fernando Henrique, montado no Real, aliou-se ao PFL para ser o anti-Lula e ganhar a eleição.

2018 ensaia uma certa perturbação no enredo clássico. O paradoxo é a desorganização aparecer no lado vencedor das recentes batalhas políticas. O “se” não resolve nada, mas se Dilma tivesse conseguido ir até o fim é provável que o lado de Lula estivesse agora tão bagunçado quanto. Ou pelo menos algo bagunçado. Até agora, as contestações a ele são residuais.

Já o candidato do PSDB, muito provavelmente Alckmin, tem problemas novos a resolver. Começa atrás, pelo menos, de Marina e Bolsonaro. E precisa ganhar musculatura para trazer o apoio do PMDB e/ou dos partidos que apoiam o governo do PMDB. Só conseguirá se mostrar força e competitividade no campo da direita para desestimular outras ambições.

Para tirar votos de Bolsonaro, o PSDB precisa falar ao eleitor de Bolsonaro. Para tirar de Marina, precisa falar ao dela. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo é complexo. Parece que o governador decidiu nesta primeira etapa mirar o hoje vice-líder nas intenções de voto. Tem lógica, mas talvez não vá ser tão simples. O eleitor de Bolsonaro leva jeito de estar entrincheirado.

Bolsonaro oscila em torno dos 10% na pesquisa espontânea. É um estoque bem razoável nesta altura do campeonato. É metade de um Lula. E o eleitor de Bolsonaro é mais convicto que a média. E está pouco propenso a mudar de opinião. E é bem mais militante, hoje, que o eleitor do PSDB. Basta olhar as redes sociais para perceber.

A opção seria tentar sacar do estoque de brancos, nulos, não sei e não vou votar, mas é pouco provável que o voto da antipolítica se converta à política nos primeiros momentos da corrida. Talvez adira no final, não para eleger alguém, mas para evitar a volta de alguém. Por isso, Alckmin é, na teoria, um candidato melhor para o segundo turno do que para o primeiro.

Assim como Lula parece melhor para o primeiro do que para o segundo. Dos nomes do PT e da esquerda, se Lula tem de longe mais chances de passar ao turno final, é o que mais deve enfrentar dificuldades para fechar a eleição. “Evitar a volta do Lula” pode, sim, mobilizar um pedaço ainda adormecido do eleitorado e portanto facilitar a vida dos adversários.

Duvidar do que dizem os políticos é sempre saudável. Os tucanos dizem preferir enfrentar Lula na urna a vê-lo impugnado. É o contrário: eles preferem o petista fora da eleição e esperam o muito provável, que o TRF-4 confirme a primeira instância. Até porque sem Lula a disputa no primeiro turno passa a ser, pelo menos no começo, por duas vagas e não uma só.

Mas, se as pesquisas estiverem certas, e se forem confirmadas, um “candidato de Lula” tem boas chances de passar à decisão. Uma vez ali, com menor rejeição que o ex-presidente, pode ter até mais facilidade para reunir os apoios necessários. Sim, uma eventual inabilitação de Lula pode ter efeito-bumerangue. A beleza da política está também na volatilidade.

E tem Marina, posicionada para colher os frutos da aversão ao establishment político. Ela já tem massa crítica e pode ser um desaguadouro quando, e se, as danças em torno do “novo” derem em nada.

Um comentário:

  1. Curioso como o bolsonarismo vai se tornando um fenômeno bem maior que o próprio Bolsonaro. Tiro por mim: antes jamais cogitava a mera hipótese de votar nele. Acontece que, aceite-se ou não, o candidato estigmatizado por todos (e muito frequentemente por comentários os mais desqualificados) como "extremista de direita" ao menos coloca na pauta de discussão assuntos solenemente ignorados por outros candidatos. Quando não, assuntos tratados com o mesmo grau de distanciamento do mundo real que já se tornou marca registrada dos partidos que nas últimas décadas dominaram em absoluto nosso cenário político. Determinadas situações são emblemáticas do grau de torpor alcançado. Ontem, assistindo a uma reapresentação de entrevista de Roberto D'Avilla com Alexandre de Moraes, o primeiro, repetindo como sempre frases feitas, disse que a "guerra às drogas" falhou. Ao que o ministro do STF respondeu, com as considerações também previsíveis de costume, pela discriminação do usuário como vítima (para isso reduzindo o universo de usuários de drogas aos miseráveis da cracolândia) e o traficante como o único criminoso nessa cadeia. Foi então que o entrevistador, com aquele estilo vaquinha de presépio de sempre, disse algo na linha: "Claro, claro, o traficante prejudica as pessoas, as levando ao 'vício'". É incrível o grau de irracionalidade desse lugar-comum. O sujeito é capaz de reconhecer o traficante como a representatividade do mal por colocar a droga ao alcance das pessoas e viciá-las. Contraditoriamente, por razões que só o ideologismo mais tacanho é capaz de conceber, mesmo que popular em certos meios pretensamente "bem pensantes", acha que o próprio Estado legalizar a comercialização de drogas que foram proibidas pelo fato de alterarem de maneira significativa a consciência, com prejuízos psíquicos de curto e longo prazo e consequências sérias não apenas à saúde do próprio usuário, mas também sobre TODA A SOCIEDADE, é a via da "racionalidade". É contra toda essa empulhação, esse escárnio involuntário, em que "intelectuais" como FHC vomitam as tolices mais escabrosas, para não falar nos petistas e suas ramificações, que muitos enxergam em Bolsonaro um elemento de ruptura, por falta de alternativa melhor, mais que bem-vindo.

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