segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Dois vetores opostos sobre a reforma da previdência no ano eleitoral. E uma dica de Mark Twain

O senso comum faz concluir que é mais difícil votar em ano eleitoral uma reforma da previdência redutora de direitos. É verdade. Os deputados e senadores candidatos à reeleição ou a outra coisa ficam mais sensíveis à sensibilidade do eleitor. E a maioria dos eleitores brasileiros são contra as mudanças previdenciárias propostas pelo governo de Michel Temer.

O mesmo senso comum diz que em ano de eleição de presidente os candidatos ao cargo serão pressionados a dizer o que farão nos principais temas da pauta econômica, se chegarem lá. E a reforma da previdência é o principal ponto da agenda proposta para estabilizar ou até trazer para baixo a curva que mostra a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto.

Três pontos parecem favoritos a polarizar o debate presidencial de 2018, não necessariamente nesta ordem. Quem é mais honesto. Quem vai mudar os métodos de governar. E o que fazer para acelerar a retomada do crescimento econômico e da criação de empregos. Outros itens, como por exemplo a segurança, prometem produzir mais barulho do que decisão de voto.

O emperramento da reforma da previdência pode acabar criando um problema para o candidato finalmente vitorioso. Por isso, a esquerda esbraveja contra, mas tem esperança de ganhar a eleição e no íntimo torce para que Temer consiga passar algo que libere o novo presidente dessa pauta. Estelionatos eleitorais têm consequências, sabe-se cada vez melhor.

Do outro lado, o cenário é mais complexo. Uma bandeira desse campo serão as reformas liberais. E a disputa pelo apoio do establishment a um ou outro candidato se dará também em função de que nome vai ser mais capaz de vencer e reunir apoio político para dar andamento à agenda proposta pelas forças que depuseram Dilma Rousseff em 2016.

Eis por que, para o governo Temer, tentar passar a reforma ao longo do todo o ano de 2018 talvez seja tão importante, ou até mais importante, do que obter uma vitória rápida. Esta teria certamente bons efeitos na economia, mas o alongamento do debate daria de mão beijada uma narrativa pronta a um eventual candidato do governo ao Planalto.

Em condições normais de temperatura e pressão, a cadeira cativa de candidato liberal-reformista estaria já ocupada pelo PSDB. Mas os tropeços tucanos abrem caminho a outras possibilidades. Geraldo Alckmin ainda pode reagrupar seu campo político habitual. Entretanto, se o governo achar um candidato leve em outro partido a coisa pode complicar-se para os tucanos.

O PMDB comeu poeira do PSDB nos oito anos de Fernando Henrique. Comeu poeira do PT nos oito de Lula e nos quase seis de Dilma. É impensável que o núcleo de governo não esteja pensando num jeito de não voltar à situação de coadjuvante. E a falta de apoio do PSDB à reforma da previdência é uma oportunidade de ouro para alimentar a tentação de abrir outro caminho.

Some-se o fato de que nunca desde 1989 o PSDB largou tão atrás na corrida presidencial, e com tantos problemas. Ou seja, o governo neste momento não enfrenta ainda um adversário consolidado em seu campo. É uma baita janela de oportunidade. Os movimentos do ministro da Fazenda são o melhor sintoma de que alguém já entendeu o essencial do cenário da guerra.

Há portanto dois vetores opostos agindo sobre o andamento da votação da reforma. Vai crescer o medo de votar, para não chatear o eleitor. E vai crescer também o interesse do governo de mostrar que tem compromisso com ela. E o andar do tempo vai aumentar a pressão sobre o PSDB para ajudar a passar uma medida que o partido sempre disse ser indispensável.

Seria prudente adotar para a reforma da previdência a máxima de Mark Twain, quando certo dia anunciaram erradamente que ele tinha morrido. “As notícias sobre minha morte foram muito exageradas", brincou o escritor. De tanto que já anunciaram o fim do mundo e não aconteceu, será inteligente a cada anúncio esperar para ver se o mundo vai acabar mesmo.

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Se o PT tivesse de planejar o cenário ideal para dar verossimilhança à narrativa de que foi e está sendo vítima de um golpe de estado continuado, dificilmente faria melhor do que fazem por ele os adversários e inimigos nas várias esferas. Lula, que curte as metáforas futebolísticas, sabe que não basta o goleiro ser bom, precisa ter sorte. Disso ele não pode se queixar.

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