segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O estado e as variáveis da corrida presidencial na virada de um ano animado para outro que promete

O que esperar e observar daqui até a eleição?

Oposição de esquerda. A variável decisiva será mesmo Lula. O ex-presidente atingiu por enquanto um objetivo: manter a autoridade absoluta no seu campo político. Os petardos da Justiça e da imprensa sobre ele e o PT, não necessariamente nesta ordem, poderiam ter enfraquecido a hegemonia sobre o conjunto da esquerda. Não aconteceu.

Há aqui e ali ensaios de alternativa. Mas não mostram por enquanto força para desafiar a ordem unida do chefe da tribo. Parecem mais movimentos para se fazerem ouvir por Lula e pelo PT, não polos reais de contestação à liderança tradicional. Se o PT não se complicar, os alternativos certa hora serão bem pressionados a caminhar com a formação principal.

A tática petista para enfrentar a quase certa inelegibilidade de Lula é inteligente, ou a única possível: levar a candidatura às últimas consequências e transformar os processos contra o ex-presidente em fatos 100% da política, terreno bem mais fácil para Lula defender-se. Mas a tática embute um risco importante. Os prazos podem conspirar contra o plano.

Um partido só pode trocar de candidato ao Executivo a até vinte dias da eleição. Se a impugnação definitiva de Lula vier antes, ele possivelmente indicará um substituto no PT. Mas, e se for depois? Lula e o partido ficarão espremidos entre boicotar e eleição ou apoiar um nome das legendas que estiverem na disputa. Ou substituir antes de a Justiça decidir. Complicado.

Se não será simples resolver, menos ainda executar. Outro fator é que se Lula for recondenado pelo TRF-4 e impugnado é provável que aumentem as pressões para tirá-lo não apenas da eleição mas também de circulação. Impedi-lo de fazer campanha e articular por um eventual substituto. Especialmente se as pesquisas futuras confirmarem as atuais sobre transferência.

Situação e novos. No estoque de votos não lulistas e fora da esquerda clássica, as variáveis a monitorar serão 1) a convergência ou não entre PSDB e PMDB/governo, 2) a resiliência de Bolsonaro, 3) o potencial de crescimento de Marina e Álvaro Dias, 4) as incógnitas, como João Amoêdo. O cenário projeta que aqui a pulverização deve permanecer até pelo menos agosto.

Ainda é cedo para dizer que o governo entrou em trajetória de recuperação de imagem, mas se as próximas pesquisas confirmarem vai esquentar a disputa para ver quem será o candidato oficial, mesmo com Temer amargando más avaliações. A narrativa de manter a reanimação da economia e evitar a volta do PT seria competitiva tanto num como noutro turno.

O risco principal para Lula e os dele é o campo governista aparecer com um novo no velho, um nome leve mas montado em ampla aliança de partidos e contando com o apoio de um governo que já não esteja em situação desastrosa. A vida do PT também complica se tucanos e peemedebistas convergirem. Mais ainda se for em torno do tal nome leve. Mas não está fácil.

Sobre os novos sem máquina, têm como fazer alguma colheita na forte rejeição à política e aos políticos. E devem contar com a ajuda talvez involuntária, mas objetiva, de novos e espetaculares fatos na esfera policial-judicial. Entretanto, além de lhes faltar apoio político estruturado, enfrentam ainda outra barreira: a aparente resiliência de Bolsonaro. Ele durará?

Todas as projeções apostam na economia rodando acima de 3% ao ano na eleição. Mesmo que não leve às nuvens um candidato do governismo, isso enfraqueceria o apelo para mudanças radicais, tanto pelo PT como pelo novo. O desejo de continuidade é diretamente proporcional ao risco de perda. Foi assim que o PT ganhou as últimas eleições.

E tem o imprevisível. Como já se disse aqui algumas vezes, uma característica do imprevisível é a dificuldade de prever quando ou como vem. Mas é sempre bom contar com ele na hora de fazer projeções.

*

Se tudo correr conforme o roteiro, esta análise de conjuntura volta quando o processo eleitoral for precipitado pelo julgamento do recurso de Lula no TRF-4. Ou antes, se algum fato exigir.

Um comentário:

  1. Caro Alon,
    Muitos anos atrás, comentava no seu antigo blog.
    Eu tenho uma percepção que há um erro de avaliação de nossas elites politicas.
    O que vejo é o chamamento para a tal da candidatura de centro, que basicamente levaria a cabo reformas econômicas pro mercado, e seria referendada pela população. Alckmin já apresenta suas reformas econômicas. É reflete os anseios dos tais formadores de opinião no mercado, imprensa e base governista.
    Eu me lembro então do Cesár Maia. "O discurso conservador, da ordem é popular, o discurso liberal, econômico, não é" (mais ou menos assim).
    Ai vc vê o Datafolha, e 70% da população se manifesta contra as privatizações, sendo majoritáriamesmo até entre os eleitores do Alckmin.
    Bolsonaro, que é um candidato da direita, mas principalmente do conservadorismo social (armas, "vou ser duro com os bandidos", "restaurar os valores morais"), consistentemente com o dobro de intenções que o melhor colocado que o candidato do "centro" governista/psdbista.
    Bolsonaro não vai muito longe por falta de partido/estrutura, e porque abusou demais da polêmica. Mas um candidato mais centrado, mais polido e com maior estrutura partidária "tipo Bolsonaro" ia ser difícil de parar.
    A questão é o seguinte, o PT ganhou as últimas quatro eleições, e Lula é consistentemente o favorito pra 2018 (não vai levar porque o TRF vai condena-lo), o que, na minha opinião, se deve ao fato de que, Lula, se quiser, adota um discurso econômico que é próximo ao centro de gravidade do eleitorado. De modo geral, o brasileiro quer "mais estado", no sentido de melhores serviços públicos e politicas de inclusão.
    Onde o PT é vulnerável é nas questões sociais. Dilma em 2010 que o diga (ela tendo que ir a Aparecida pra mostrar que não era atéia comunista). A segurança pública. Cultura. Consistentemente, o brasileiro, tendo oportunidade, pro bem e pro mal, vota ou opina conservadoramente. É o plebiscito do desarmamento, a redução da maioridade penal, pena de morte...
    Na massa do eleitorado, pobres e ex-nova classe média, poucos estão realmente preocupado se a Petrobrás e o BB continuarão estatais ou não. Se fizer uma passeata a favor, vai só o pessoal do MBL e do NOVO. O que realmente preocupa é a segurança pública, assaltos, balas perdidas, policiais mortos. Se for pra aumentar penas, reduzir maioridade a passeata vai um milhão.
    Temos bancada da bala, bancada evangélica.... Mas não temos bancada liberal (ou melhor temos, mas se elegem como como bancada da Bíblia ou da bala).
    O candidato de centro direita terá que se eleger como candidato primeiramente conservador, e aí manobrar para questões econômicas. Os republicanos fazem isso a muito tempo.

    Desculpe o textão.
    Nehemias

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