E o governo Jair Bolsonaro chegou naquele momento bastante comum no Brasil dos últimos trinta anos, desde a volta das diretas, quando a popularidade cai e a oposição joga o impeachment na roda para mobilizar a rua. Cada situação específica tem seus predisponentes e desencadeantes, mas o cenário por aqui costuma repetir-se. É interessante então traçar as comparações. Bolsonaro está melhor ou pior que os antecessores nessa hora?
Está, sem dúvida, melhor que Fernando Collor de Mello. Ao
menos por enquanto. Collor vinha de ver falhar o plano econômico com o qual
pretendera matar a superinflação. A popularidade tinha despencado. E seu apoio orgânico
na imprensa tendia a zero. E seu projeto de Brasil Novo, do qual a “nova
política” é legítima descendente, pressupunha a rejeição aos políticos e ao
chamado fisiologismo, rótulo recentemente repaginado com o nome de velha
política.
Quando Collor foi emparedado pelas acusações do irmão Pedro,
faltaram-lhe redes de proteção.
Bem diferente de Fernando Henrique Cardoso no episódio do
chamado estelionato eleitoral de 1998-99.
Depois de reeleger-se cavalgando o real forte, FHC viu
desvalorizar a moeda na largada do segundo mandato. Sua popularidade ruiu. O
impeachment chegou a ser aventado por grupos petistas não majoritários no
partido, mas FHC beneficiou-se de quatro fatores: apoio empresarial, de imprensa
e parlamentar sólidos e uma certa aversão social a ”impichar” o segundo
presidente eleito na redemocratização, pouco depois de terem feito isso com o primeiro.
Luiz Inácio Lula da Silva tomou pela proa uma ameaça de
impeachment na crise de 2005, desencadeada pelas acusações de Roberto
Jefferson. Mas nunca perdeu o núcleo de sua base de sustentação social, e um
ano antes tinha começado o movimento de abrir o primeiro escalão à participação
do que hoje se chama de partidos de centro. Depois de navegar em mar turbulento
naquele ano, Lula entrou em 2006 com águas bem mais tranquilas.
E Dilma Rousseff?
Mesmo com a popularidade declinante após as manifestações de
2013, conseguiu reeleger-se em 2014 imputando aos adversários a intenção de uma
economia duramente austera. Quando ela própria aplicou algo assim, a oposição
aproveitou o colapso do apoio social ao governo para derrubá-la. Ajudaram para
isso as circunstâncias do então presidente da Câmara dos Deputados. Que fora
eleito contra a presidente da República.
Dilma não teve em 2016 as redes de proteção de FHC em 1999.
E é bom lembrar também as diferentes atitudes dos vices. Se
o vice não é parte da articulação, a missão de remover o titular fica bem mais complicada.
E Jair Bolsonaro? O núcleo da base social dele está
preservado em termos numéricos. Há alguma corrosão por causa do manejo da
Covid-19, mas será preciso acompanhar para saber se o presidente voltará a
mostrar resiliência ou se desta vez vai continuar murchando. A barragem de
imprensa é forte, mas ele tem seus canais para articular alguma resistência. E
no parlamento os candidatos dele têm boas chances por enquanto de presidir as
duas Casas.
O que não chega a ser garantia absoluta, mas é útil quando o
jogo começa.
Este é o quadro no momento. E essas são as variáveis a
acompanhar.
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