As pesquisas são uma referência para monitorar como anda a
campanha eleitoral. Mas existem outras variáveis. Uma delas, importante, é o
evoluir da coesão e atratividade dos campos políticos. Naturalmente, quanto
mais coeso e gravitacionalmente poderoso seu campo, mais você projeta
expectativa de poder. E o inverso é tão verdadeiro quanto.
Um bom exemplo aconteceu em 2018. Toda a tática petista para
o segundo turno baseava-se na suposição de que, contra Jair Bolsonaro, reunir-se-iam maciçamente as forças políticas que vertebraram a Nova República.
Não funcionou. O desejo de impedir a volta do PT ao poder foi mais forte que a
rejeição a um candidato identificado com o regime de 1964.
Ou seja, a coesão do assim chamado “campo democrático”
esteve abaixo do necessário para derrotar o bem coeso, na época, “campo
antipetista”.
E qual a situação hoje? Não é novidade que, aparentemente,
estejamos vivendo um “segundo turno no primeiro”.
É definitivo? Ainda não. É cedo. Eventualmente, um terceiro
nome pode reunir o apoio dos demais “terceiristas” ou agrupar por gravidade o
eleitorado “nem Lula, nem Bolsonaro”. Que hoje, numa hipótese otimista, gira
entre 15% e 20%. Se um terceiro chegar nesse patamar, o jogo fica mais aberto.
Mas por enquanto está fechado.
Em situações de “segundo turno no primeiro”, é senso comum
que a guerra se dá em torno de uma disputa de rejeições. Mas não é só isso. Na
teoria, cada polo precisa ter a habilidade de não deixar erodir o apoio firme,
enquanto suaviza o discurso e o programa e acena a potenciais aliados oscilantes
com a expectativa de poder.
É interessante notar que no momento as metodologias de Luiz
Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro têm características muito próprias.
Lula trabalha exatamente com base no livro-texto. Atraiu Geraldo
Alckmin para a vice e, nessa operação, trouxe o apoio do PSB. E está
trabalhando para trazer o PSD. Está ampliando. Bolsonaro parece apostar na
consolidação de um núcleo duro com PL, Progressistas e Republicanos. E a partir
de uma sólida base partidária e ideológica tentar desconstruir Lula.
O que vai prevalecer? A linha mais militantemente “pura” do
atual presidente, combinada com o poder do cargo, ou o neofrentismo petista? Na
aritmética, a segunda opção parece mais atraente. Mas a política nem sempre é principalmente
aritmética. De vez em quando, forças numericamente inferiores concentram o fogo
no ponto vulnerável do adversário e vencem.
O forte de Lula é o apelo a esquecer as diferenças em
nome do desejo de tirar Bolsonaro. Até que ponto isso vai reunir o
antibolsonarismo sem que o ex-presidente tenha de explicitar concessões programáticas?
Pois Bolsonaro, além do antipetismo, aparentemente vai liderar um bloco mais
coeso no plano programático.
Quem vai ter mais força gravitacional na hora decisiva? Vai
depender essencialmente de como andará a rejeição a Bolsonaro? A linha petista
parece basear-se principalmente nisso. Faz sentido, como em outros momentos
(por exemplo Tancredo Neves em 1985), mas não deixa de ser arriscado. Depender
excessivamente dos erros do adversário nunca é bom.
Ainda que sempre seja possível dar uma mão, na propaganda, para piorar a imagem do oponente.
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