Há três momentos-chave neste processo eleitoral brasileiro: 1) a janela de trocas partidárias e o prazo de filiação, 2) as convenções e 3) a eleição propriamente dita. Pode haver um quarto, o segundo turno. E um requisito fundamental é o candidato chegar com expectativa de poder a cada uma dessas barreiras, para ganhar impulso ou, no mínimo, evitar a lipoaspiração, a cristianização.
Por fortuna ou virtù, ou um pouco das duas, Jair
Bolsonaro alcança o primeiro obstáculo transmitindo a sensação de estar se recuperando
nas pesquisas. A intensidade dessa recuperação e a própria existência dela
podem ser debatidas, mas na política vale a percepção. E a percepção
disseminada neste momento é o presidente não ser carta fora do baralho para
outubro. Algo decisivo para contrabalançar pressões centrífugas.
E para atrair gente às legendas que apoiam Bolsonaro.
As razões da recuperação – ou da percepção de recuperação –
são essencialmente três: 1) uma tendência recente leve, porém contínua, de retomada
dos empregos, 2) a estabilização do novo patamar de programas sociais e 3) a normalização
da Covid-19. Começando por este ponto, as mortes pelo SARS-CoV-2 ainda se
contam em centenas ao dia, mas o clima é de liberou geral. O não-Carnaval deve
ter sido o canto de cisne da “cultura do lockdown”.
A regularização das atividades impulsiona a economia e os empregos, tudo turbinado por mais dinheiro no bolso dos pobres que
recebem o Auxílio Brasil. Claro que a grande massa do Auxílio Emergencial ficou
fora do programa, mas, aparentemente, a expansão do mercado de trabalho vem
oferecendo uma “porta de entrada”. A soma de vetores dá um respiro ao presidente da República.
A percepção de competitividade de Bolsonaro no mano a mano
com o hoje favorito Luiz Inácio Lula da Silva não chega a ser um problema imediato
para este, mas é um problemão para a terceira via, pois esta depende de dois
fatores: 1) uma confluência em torno de alguém e 2) a degradação da expectativa
de poder do incumbente. Pois seria um raio em céu azul algum “terceirista”
tirar Lula da parada.
Vai ser necessário acompanhar como transcorre a janela das
trocas partidárias, depois ver que partidos formarão federações, as coligações
estáveis por quatro anos e nacionalmente verticalizadas e vinculantes. Daí
iremos ao segundo momento crítico, as convenções que definirão candidatos e
apoios. Quatro anos atrás esse aspecto de coligações e apoios contou pouco.
Será que o fenômeno vai se repetir?
Para tanto, precisaria aparecer um novo outsider. O mais bem
ou menos mal posicionado é André Janones, que por enquanto não mostra tração. E
o sistema político saiu do estado de ruína de 2018. E há na cadeira no Planalto
um presidente candidato à reeleição, com a caneta na mão, e que precisa de
tempo de televisão e rádio para mostrar o que fez e por que deve merecer mais
quatro anos.
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