quinta-feira, 18 de maio de 2017

Nova megadelação desorganiza os blocos e abre caminho para um novo candidato

O principal efeito da megadelação dos controladores e executivos da J &F será, pela primeira vez desde a eclosão da crise, há três anos, desorganizar os dois grandes blocos que disputam o poder. Também deve abrir caminho para um novo personagem, mas não necessariamente um personagem novo, na disputa de 2018.

Até aqui a crise evoluía de modo razoavelmente organizado. O PMDB rompeu a aliança com o PT e atraiu o PSDB para uma coligação não apenas de transição. Foi também projetada para vencer em 2018 com base num programa de reformas liberais e na esperança da retomada do investimento privado, para alavancar o crescimento e o emprego.

A narrativa estava pronta: era a aliança que tinha tirado o Brasil do desastre econômico produzido pelo governo Dilma Rousseff e pelo PT. Isso de algum modo também definia a narrativa adversária: tratar-se-ia de retomar o ciclo virtuoso de Lula, interrompido por um golpe conservador que tinha mergulhado o país no caos político e quebrado a economia.

Uma dúvida era se Lula poderia concorrer. Se não pudesse, haveria um candidato de Lula para erguer a bandeira. Do outro lado, a disputa seria entre o candidato "de novo tipo" e o "de tipo inteiramente novo". Provavelmente sairia do PSDB, mas não era prudente acreditar que o grupo em torno de MIchel Temer cederia o espaço sem luta.

A delação da J&F desorganiza o quadro porque, ao inviabilizar o governo Temer e, provavelmente, o próprio chefe do governo, abre caminho para um novo personagem. Pois, se houver, e é provável que haja, um novo presidente, ou este será um foco de crise, com alto risco de também cair, ou se tornará um polo aglutinador para reconstruir o projeto original da aliança governista.

Do lado da oposição, se há motivo para festejar agora o infortúnio adversário, será prudente aguardar os efeitos da delação sobre Lula e o PT. As importantes relações entre o grupo empresarial e o partido recém-desalojado do Planalto autorizam prever, com certeza, que o impacto judicial, e portanto político, estará bem longe de ser neutro.

Que lado sairá menos ferido do abalroamento? E dos próximos? Se, na hipótese da saída de Temer, a aliança governista conseguir eleger um presidente na eleição indireta, com base no compromisso de manter algo das reformas trabalhista e previdenciária, o bloco liberal terá um ponto de apoio para a reorganização.

Mas as condições para esse desdobramento serão cada vez vez mais complicadas. A resistência social e popular a restrições no que a população considera serem seus direitos tende a crescer, alimentada pelo evidente déficit de legitimidade. Mas se der certo o novo presidente será um candidato natural à própria sucessão no próximo ano.

Se, via PEC ou por decisão do STF, a eventual eleição for direta, não é possível prever que vença um candidato liberal-reformista. O ambiente político e social favorecerá a exacerbação eleitoral alimentada pelo cansaço com o longo ciclo recessivo e a ubiquidade dos casos de corrupção. Ou seja, o momentum estará nos extremos.

A única coisa razoavelmente certa é que um eventual substituto de Temer tenderá a ser um polo da disputa. Claro que sempre poderá aparecer uma solução de conciliação e apenas transição, mas seria ingênuo acreditar na perenidade desse tipo de acordo político numa conjuntura tão volátil. E, naturalmente, será necessário acompanhar os fatos policiais dos próximos dias para acurar a análise.

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