segunda-feira, 7 de maio de 2018

Álvaro Dias corre por fora. Se encostar em Alckmin, ganha músculos para disputar o projeto dito centrista

Poucas vezes no Brasil foi tão verdade a máxima do mineiro Magalhães Pinto, da política como as nuvens no céu. “Você olha, e está de um jeito; você olha de novo, e está de outro.” Em especial no chamado centro, que procura se ajeitar para tirar ou a esquerda ou a direita de raiz do quase certo segundo turno, dado o número de candidatos com razoável intenção de voto.

A semana foi boa para Geraldo Alckmin, que vê murchar rapidamente a viabilidade de um adversário governista puro na eleição. As atribulações jurídicas atrapalham Michel Temer e a pasmaceira econômica é um obstáculo a Henrique Meirelles. Nada é definitivo, mas qualquer um dos dois terá de enfrentar batalha morro acima para demover o MDB de não ter candidato.

A tática de Alckmin é boa. Garantir uma coligação com algum músculo e esperar pelo esvaziamento dos adversários em seu campo. Com o governismo, isso já está encaminhado. Restam porém dois problemas: o polo Marina Silva/Joaquim Barbosa e, menos falado, o projeto do senador Álvaro Dias. O primeiro está sujeito aos humores do PSB. Vamos então tratar do segundo.

A pré-campanha de Dias vai em relativo silêncio, mas tem ganhado terreno. Seu Podemos atraiu parlamentares, ele mantém consistentemente um patamar não desprezível nas pesquisas e está bem fincado no Sul, especialmente no seu estado, o Paraná, essa Canudos da Lava-Jato. Tem experiência na administração, foi governador, e percorre longa carreira legislativa.

Uma desvantagem de Dias para Alckmin, no momento, é São Paulo. Mas o ex-governador paulista enfrenta em seu reduto um Jair Bolsonaro que parece entrincheirado. Se e quando conseguirá finalmente esvaziar o balão do capitão, é uma incógnita. Em 2014 Aécio Neves conquistou São Paulo só na última semana do primeiro turno, e por absoluta falta de adversário.

Outro problema de Dias é a relativa fraqueza partidária. Que ajuda a vender a ideia de uma candidatura “nova”, mas traz também desvantagens operacionais e políticas, como a a dúvida que assola a dupla Marina-Barbosa: “Vai conseguir governar?". Horror aos políticos e à política é chique antes da eleição. Depois de eleito, passa a ser um passivo.

Se bem que 2019 trará, caso vingue a eleição de um dito centrista, a pressão furiosa do establishment, imprensa incluída, para o Legislativo absorver, sem grande resistência, os projetos do vencedor. “É agora ou nunca.” A passividade algo bovina do atual Congresso diante da desenvoltura legislativa-constituinte do Supremo Tribunal Federal faz crer que a tática pode colar.

Poucas vezes se viu um Congresso tão disposto a abrir mão de poder, para proteger-se. Diante do movimento em pinça da Lava-Jato e do STF sobre o Legislativo, a reação dos deputados e senadores tem sido o não-confronto. Se isso se mantiver após janeiro, um presidente dito centrista poderia ter a oportunidade de tentar governar por meio de um bonapartismo de elites.

Mas é prudente um candidato a presidente procurar costurar alguma base política. Quem está mais adiantado nisso é Alckmin. Se Dias atrair o PRB de Flávio Rocha e avançar na disputa do Democratas, entra decisivamente no jogo. E se Dias encostar nas pesquisas em Alckmin pode criar uma onda, ou pelo menos uma janela de moda. Se vai aproveitar ou não, é outra história.

Só uma coisa é certa: o establishment fará o diabo para empurrar um mais autêntico dos seus ao segundo turno. Onde o antipetismo, a rejeição a Bolsonaro ou a anemia político-programática de Marina ou Barbosa serão usados maciçamente para definir a eleição. A peça está escolhida, o teatro também, e entramos agora na fase da seleção do elenco.

A economia entra no período eleitoral como um passivo. A não ser que haja um milagre daqui até outubro, os condutores dela deverão ter de explicar o que deu errado. Especialmente na reforma trabalhista, que reduziu custos do capital mas não implicou retomada da força de trabalho. Um desafio e tanto para os jornalistas e publicitários das campanhas.

E um problema para Alckmin, pois a reforma trabalhista é mais até do PSDB que do governo Temer.

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