Joaquim Barbosa saiu da disputa presidencial e (surpresa!) culpou o sistema político. Mais ou menos como fizera Luciano Huck. Assim, até eu. Quando o jogo é à vera e fica difícil, caio fora e não brinco mais. A vida é dura, camaradas.
Huck desistiu duas vezes da candidatura, e o farto noticiário secou. Barbosa está filiado ao PSB, e daqui até agosto pode ser especulado para outras posições. Deve continuar frequentando, agora talvez como moeda de troca do partido.
O sistema político brasileiro é mesmo bastante impermeável à renovação. E aqui vale o velho ditado, de que de boas intenções está cheio o inferno. Os recentes movimentos para melhorar só têm ajudado a piorar.
A opinião pública exigiu fidelidade partidária. Exigiu o fim do financiamento empresarial das campanhas e partidos. Conseguiu ambos. O resultado: a política brasileira consolidou seu traço cartorial. Consolidou o poder dos proprietários de legenda.
Se o sujeito não quiser enveredar pelo crime nem ser fantoche de milionário entediado que resolve gastar um troco para brincar de renovar a política, o único caminho é submeter-se a algum dono de partido.
Para poder concorrer e ter recursos na campanha. Daí por que todas as previsões apontem taxa de renovação baixa este ano no Congresso. Pois o dinheiro do fundo eleitoral será canalizado preferencialmente para quem já tem mandato. #FicaaDica.
Verdade que nossa opinião pública lutou bravamente contra o fundo público eleitoral. Mas aí também já seria demais. Fazer política sem dinheiro é quase tão possível quanto, por exemplo, fazer jornalismo sem dinheiro. A realidade acaba por prevalecer.
De um jeito ou de outro. E ela prevaleceu. Não completamente, como lembrou na 3ª feira ao Poder360 um aliviado Jair Bolsonaro, quando perguntado como fazer para diminuir o excessivo número de partidos.
Singelamente, o atual líder nas pesquisas sem Lula respondeu que se houvesse menos partidos –outra exigência da opinião pública– possivelmente ele não conseguiria ser candidato. Você não precisa curtir o Bolsonaro para aceitar essa verdade.
Se ao quadro atual acrescentarmos a cláusula de barreira, aí sim o serviço estará completo. E isso já está contratado, para daqui a 4 anos. E a opinião pública poderá, como Nero, tocar harpa enquanto Roma pega fogo.
A causa de o Brasil ter muitos partidos não é legislação frouxa. Os partidos multiplicam-se porque é impossível desafiar os donos de legenda por dentro das estruturas.
Aqui Barack Obama jamais teria derrotado Hillary Clinton, muito menos Donald Trump conseguiria tratorar todo o establishment do Grand Old Party. O resultado é a multiplicação das siglas pelo que na biologia se chama de cissiparidade. Quando o ser vivo nasce do outro por uma simples mitose.
E mesmo essa fresta será em boa medida bloqueada, pois a partir de 2022 os novos partidos não terão mais dinheiro nem tempo de televisão. Sem poder arrecadar de empresas ou comprar publicidade, quem quiser desafiar o sistema terá de lutar em condições completamente desiguais.
Ou meter-se a negociar com o oligopólio partidário. E teremos regredido na política ao estágio tribal. Vai ser divertido assistir o pessoal tentando desatar o nó.
Não seria tão difícil assim de resolver. Bastaria impor mecanismos para democratizar a vida partidária-eleitoral. Por exemplo, exigindo que os candidatos sejam escolhidos em eleições internas com direito a voto de todos os filiados. E limitando o direito de veto a filiações. E proibindo o partido de ter candidato onde só tenha comissão provisória. E voltando o financiamento empresarial, mas com duros controles. E permitindo a compra de publicidade.
Dá para fazer. Seria um avanço civilizatório para a nossa democracia. E seria glorioso ver varridos para a lixeira todos os “aperfeiçoamentos” recentes. Vai acontecer? Duvido. Os sabichões da opinião pública precisariam admitir que fracassaram e que suas brilhantes ideias produziram o oposto do que prometiam. Não sei se estão preparados para tanto.
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Publicado originalmente no www.poder360.com.br
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