A fórmula suficiente costuma ser aproveitar o tempo de rádio e TV para inicialmente “apresentar propostas”, e logo partir para desconstruir o inimigo, estampando manchetes de jornal e capas de revista difamatórias. Os principais ativos? 1) A capacidade de fazer produzir material jornalístico favorável e 2) uma vantagem decisiva no tempo de tela.
Este último critério é o que aliás orienta as alianças, graças à original fórmula que permite no Brasil aos partidos negociar seu espaço no rádio e TV quando não lançam candidato. Há muito debate sobre as composições regionais, mas elas nunca foram decisivas, pelo menos desde que a regra eleitoral decidiu desvincular as coligações nacionais das estaduais.
É convencional supor que a fórmula “tempo de TV + jornalismo favorável” vá continuar tendo papel fundamental este ano. Todos os estudos mostram, por exemplo, que as disputas nas redes sociais giram no mais das vezes em torno de notícias produzidas pelo jornalismo profissional. É um sistema de comensalismo, como se vê nos oceanos entre tubarões e rêmoras.
Some-se o fato de ter surgido entre nós um sistema de fact-checking deformado, voltado unicamente para fiscalizar, aferir e denunciar o que dizem os políticos ou os veículos jornalísticos de explícita orientação político-partidária. Inexiste um fact-checking do jornalismo profissional, ele está blindado, com a exceção dos raros veículos que mantêm ombusman.
Eis o principal passivo de Bolsonaro, Marina e Ciro. Quando o jogo começar para valer, estarão em desvantagem nos dois quesitos. Nenhum tem a simpatia do establishment ou alianças expressivas. Ciro ainda tenta fechar esta última fenda, mas as perspectivas não são as melhores. E nenhum dos três tem enraizamento social estruturado. Como exibe por exemplo o PT.
Mas, e se houver uma alteração dessa lógica? E se o eleitorado de Bolsonaro continuar resistindo num universo fechado e impermeável às tentativas de desconstrução? E se nem todo o esforço do establishment puder alavancar Alckmin, Doria ou Meirelles? E se Marina mostrar musculatura num cenário de enfraquecimento extremo da capacidade hegemônica da elite?
As experiências recentes são contraditórias. As eleições fora de época no Amazonas e Tocantins vêm confirmando a notável resistência dos candidatos chamados tradicionais, graças também ao aumento exponencial da massa de eleitores que simplesmente não votam em ninguém. Quando o protesto se dispersa no não voto, as máquinas costumam prevalecer.
Mas as pesquisas presidenciais estão congeladas. Lula resistiu à avalanche de noticiário negativo. Bolsonaro segue impávido. Marina também, apesar da pouquíssima exposição. Ciro sobrevive e até desperta algum entusiasmo no centrismo angustiado pela falta de nomes mais mais musculosos vindos da direita. No popular, o centrismo está se agarrando até em fio desencapado.
As experiências internacionais de disrupção e de emergência do novo mostram que isso é mais possível quando o sistema é flexível. No Brasil, Obama jamais derrotaria Hillary dentro do partido, muito menos Trump poderia fazer o que fez com o Grand Old Party. Nem Macron teria os instrumentos para ganhar a presidencial e formar maioria parlamentar.
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E seguem as conversas sobre a possível troca de Geraldo Alckmin por João Doria. Este seria um candidato mais capaz de disputar com Bolsonaro o eleitorado de direita, por vestir naturalmente o figurino. E representaria o passo natural de um bloco político que vai assumindo um perfil cada vez menos social-democrata e mais liberal-conservador.
Mas Alckmin é o presidente do principal partido desse bloco, e só sai se desistir. Nunca se viu isso na política brasileira. E se trocar Alckmin por Doria o PSDB arrisca perder as duas eleições principais este ano: no Brasil e em São Paulo. Com idas e vindas, os quadros tucanos estão nos cargos em São Paulo desde o governo Montoro, há 35 anos.
Seria um risco e tanto.
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