quinta-feira, 21 de junho de 2018

O Brasil está atolado num jogo de perde-perde

Faltam forças para impor a saída
Tendência é continuar ladeira abaixo

Diz o velho e batido ditado que não se faz omelete sem antes quebrar os ovos. Outra verdade, tão antiga e batida quanto essa: ninguém descobriu ainda como retroagir o ovo cozido, ou frito, ao antigo estado cru. A ação da temperatura sobre a clara e a gema é implacável. E quanto mais cedo a pessoa se conforma menos tempo perderá tentando a impossível façanha. Melhor deixar o desafio para os cientistas. Quem sabe um dia eles conseguem?

Vale para a culinária e vale para a política. Aqui e ali, intelectuais das diversas extrações do liberalismo descobrem, consternados, que a maioria da população brasileira não acredita na necessidade de reformar a Previdência, implantar o teto dos gastos estatais, combater os privilégios das corporações, públicas e privadas, ou dar mais liberdade para o capital. Basta atacar com força a corrupção e o dinheiro vai aparecer.

Esse mesmo senso comum considera também que o melhor remédio contra a corrupção é prender o maior número possível de políticos pelo maior tempo possível. E se as leis atrapalham, ignorem-se, ou “reinterpretem-se”, as leis. Aplique-se aos políticos, portanto, a velha máxima machista, hoje felizmente extirpada das práticas sociais aceitáveis: mesmo que a Justiça não saiba exatamente por que está batendo, eles com certeza sabem por que estão apanhando.

É desperdício de tempo discutir agora quem seria o principal responsável por termos chegado a esse ponto. Se são os políticos, que consolidaram em três décadas um sistema programado para apodrecer. Ou se é a aliança saprófita entre as corporações e a opinião pública, aliança que se alimenta dos tecidos apodrecidos da política para ganhar força e arrebatar o poder moderador da República. Mais útil é olhar os fatos: o país está atolado num jogo de perde-perde.

O Brasil passou a acreditar que destruir o sistema político e instalar a insegurança jurídica disseminada é um preço razoável a pagar para liquidar a corrupção, e a partir daí eliminar o foco infeccioso responsável pela septicemia nacional. Mas o jogo é de perde-perde, pois o processo não cria um mecanismo viável para reconstruir a política a partir das cinzas, e portanto inexiste uma maneira de sair dessa a partir de algum consenso social.

Há duas saídas grosso modo para situações assim: conciliação ou, desculpem, porrada. E como parece não haver força para impor agora nenhuma das duas, mais provável é continuarmos deslizando lentamente ladeira abaixo, até que uma das opções reúna massa crítica. Quanto tempo vai levar, aí já é adivinhação para pitonisas. Uma única certeza: não vai ser em janeiro de 2019. Apesar de o bonapartismo caminhar amplamente favorito na corrida presidencial

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Publicado originalmente no www.poder360.com.br

Um comentário:

  1. "O Brasil passou a acreditar que destruir o sistema político ..."
    quem interpreta esse coletivo, e com quais mecanismos?
    quero eleições livres, sem presos políticos.

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