segunda-feira, 11 de junho de 2018

Pensamentos sobre o Datafolha. No que a prisão atrapalha Lula. E no que o ajuda a ser o kingmaker

O Datafolha deste domingo confirma que vem diminuindo o voto espontâneo em Lula. Pesquisas devem ser olhadas no conjunto, reduz a chance de errar a análise, mas essa erosão é consistente com a realidade. É provável que a ficha esteja caindo na parte lulista do eleitorado. A chance de Lula concorrer até o fim e chegar elegível à urna é hoje residual.

Os demais dados na pesquisa não são ruins, ou são bons, para o ainda pré-candidato do PT. Ele recolhe entre 57 e 60% dos votos válidos num segundo turno contra Bolsonaro, Marina ou Alckmin. É o desempenho clássico de um petista entre 2002 e 2010. Em 2014 Aécio Neves apertou dramaticamente a margem, mas ela parece estar em recomposição.

E 47% dizem que votam com certeza (30%) ou admitem votar (17%) num nome indicado por Lula, caso não possa concorrer. Aqui os números mantêm consistência: por volta de 30% é a intenção de voto em Lula no primeiro turno, e 47% é uma ordem de grandeza compatível com o desempenho dele no segundo turno, que oscila de 46 a 49%.

51% dizem que não votam de jeito nenhum no candidato de Lula, mas para o anti-Lula ser competitivo num segundo turno precisará atrair com grande força o eleitor que hoje pensa em não ir votar, ou escolher branco ou nulo. Se o desafio do PT é fazer o lulista votar num outro nome, o problema dos adversários é trazer com força o voto inútil anti-PT e antilulista.

Outra constatação é inexistir herdeiro natural, ou inercial, do voto de Lula. Sem alternativa eleitoral explícita e apoiada pelo ex-presidente, a tendência é dispersar, com a maioria indo para o voto inútil. Por enquanto, os números não autorizam otimismo a quem imagina impor uma solução a Lula e ao PT. Ambos ainda jogam com as brancas no tabuleiro eleitoral.

Em síntese, estamos a menos de quatro meses do primeiro turno e Lula mantém o protagonismo, mesmo preso. A cadeia desidratou apenas marginalmente sua liderança, e ele permanece, como se diz em inglês, o principal kingmaker, fazedor de rei, da eleição. Em parte pela própria força, em parte pela frustração com o governo nascido do impeachment.

A cadeia impõe sofrimento pessoal a Lula. Mas política e eleitoralmente os efeitos são contraditórios. Preso, ele não pode fazer comícios, participar de debates ou entrevistas. Tampouco oferece aos adversários a oportunidade de o perseguirem nas aparições externas e questionarem-no diretamente em debates. E tira do jornalismo a chance de apertá-lo em entrevistas.

Se Lula está excluído da campanha eleitoral no mundo exterior, também está momentaneamente protegido da exposição direta aos ataques adversários e aos naturais questionamentos da imprensa. E quem permanece em campanha não é um Lula de carne e osso, mas a memória de seu governo. Que leva vantagem em relação aos demais governos.

Claro que isso não pode ser indefinidamente esticado. Uma hora, o “candidato do Lula” vai ter de aparecer, e começará a apanhar. E a substituição precisará ser a tempo de poder comunicar e convencer o eleitor lulista. A execução não vai ser fácil. Mas por enquanto a resultante ajuda o PT: Lula está protegido e também protege o possível sucessor.

*

Na outra metade do campo, o quadro está à espera do final da Copa do Mundo, do início da campanha e dos debates entre os candidatos na TV. A principal variável a monitorar é a resiliência de Jair Bolsonaro, que será mais testada quanto menos alianças, e portanto menos tempo de TV, ele conseguir reunir antes da largada oficial do primeiro turno.

A esta altura, parece bem enfraquecida a hipótese de Bolsonaro desidratar naturalmente. Seu eleitor tem uma lógica parecida com o de Lula: é ideologicamente identificado com o líder e disposto a relevar seus defeitos. Mas será um erro desprezar a hipótese de, alguma hora, o establishment tentar de tudo para levar um nome “de centro” para a decisão.

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