Um bom método para prevalecer no debate político é tomar como premissa algo que nunca poderá ser verificado, e portanto jamais será derrubado com argumentos factuais. O “se” não joga no futebol, mas na política costuma ter grande utilidade. “Se vocês tivessem feito tudo do jeito que eu disse para fazerem garanto que o resultado seria muito diferente.”
1) Uma alternativa moderada teria mais chance contra Bolsonaro
A tese é atraente, por um ângulo cartesiano. Se a esquerda estivesse apoiando o chamado centro, somar-se-iam os votos de ambos e a direita estaria em apuros. Um problema: esse tipo de candidato ou vem sendo amplamente rejeitado ou no mínimo enfrenta gigantesca resistência do eleitor de Norte a Sul. Vide Anastasia (MG), Paes (RJ) e Rollemberg (DF).
2) O PT teria mais chance se tivesse apoiado Ciro
Pode ser que sim. Mas também pode ser que Bolsonaro tivesse sido eleito no primeiro turno. Isso só não aconteceu porque o PT reteve praticamente todo o eleitorado dele. Quem pode garantir que o petismo transferiria 100% dos votos “Haddad é Lula” para Ciro, sendo que Ciro sempre fez questão de manter uma distância regulamentar, hostil até, do PT e de Lula?
3) Se Dilma não tivesse sido derrubada, o PSDB estaria muito bem
Também pode ser. Mas o PT já demonstrara desde 2006 que com a caneta sabe ganhar eleição presidencial. O PSDB foi prejudicado pela identificação com o governo Temer. Mas suas maiores dificuldades decorrem da #LavaJato e da fadiga de material, isto em São Paulo. No que os dois vetores estariam enfraquecidos se Dilma ainda estivesse sentada na cadeira?
4) Doria teria mais chance que Alckmin de ganhar a eleição
Esta até eu já escrevi. E teria mesmo, pois Doria é quase um Bolsonaro dos Jardins. Mas quando Doria se preparava para entrar na pista Bolsonaro já completara várias voltas. E Doria para presidente precisaria carregar o “fardo PSDB”, algo que claramente se transformou de ativo em passivo. E se Doria fosse tão competitivo não estaria sofrendo tanto agora em SP.
5) Márcio França é a prova da viabilidade do dito centro
Será? São Paulo é exceção. Como em 2012, quando a vitória de Haddad na prefeitura da capital mascarou o declínio do PT. E França vem tendo sorte, algo essencial. O nome mais bolsonarista, Doria, está de breque de mão puxado porque deixou a prefeitura. Mas segurou votos suficientes para impedir o arranque de um bolsonarismo puro, como no RJ e em Minas.
6) Alckmin errou ao atacar Bolsonaro. Deveria ter atacado só o PT
Antes da facada, as críticas de Alckmin a Bolsonaro vinham ajudando a elevar a rejeição ao nome do PSL. A tática parecia funcionar. Funcionaria o suficiente para tornar Bolsonaro alcançável pelo tucano? Ninguém pode garantir, pois dia 6 de setembro teve a facada. E o capitão ganhou duas semanas de trégua. O imprevisível é mesmo muito difícil de prever.
7) Ciro deveria ter aceitado a vice de Lula
Até porque seria imensa a pressão, interna e externa, sobre a direção do PT para que Ciro virasse candidato na saída de Lula. Mas e se desse errado? E se Ciro não aceitasse ser vice de Haddad, renunciasse e abrisse uma crise no lançamento da candidatura petista? Provavelmente, sabe-se agora, Bolsonaro teria caminho livre para ganhar no primeiro turno.
8) O dito centro deveria ter se unificado em torno de um único nome
A dispersão em várias candidaturas foi mesmo um problema, mas o voto útil na reta final do primeiro turno mostrou que o eleitor (dos dois lados) tinha como resolver a coisa. Se tivesse havido (olha aí o “se”, de novo) um candidato simultaneamente “de centro” e antiestablishment saberíamos agora da viabilidade dele. Mas Huck correu da raia e ficaremos sem saber.
9) Se o voto fosse impresso Bolsonaro teria sido eleito no primeiro turno
É a prova mais viva de que contra certos argumentos os fatos não valem nada. E se você continua achando o inverso, que contra fatos não há argumentos, lamento informar que hoje em dia você está por fora.
E SE o Joaquim Barbosa...
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