quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Para entender as (não) alianças do PT no segundo turno

Bolsonaro quer “varrer” o PT da política
Seria burrice. Mas outros pretendem beneficiar-se


O PT praticamente não conseguiu alianças no segundo turno. Se as urnas confirmarem as pesquisas, nem que aproximadamente, terá acontecido o seguinte: os votos de Ciro, Marina e Boulos terão ido inercial e majoritariamente para Haddad; os dos demais candidatos, espontânea e principalmente para Bolsonaro.

Aliás, mesmo que as urnas tragam uma virada do PT, ela acontecerá pela força gravitacional própria do petismo. A ideia de uma ampla “frente democrática” contra o bolsonarismo ficou no papel e nas declarações dos políticos. Simplesmente não aconteceu. Para usar uma expressão de Roberto Schwarz, foi uma ideia fora de lugar.

Por algumas razões. Uma delas: o bloco reunido pelo candidato do PSL nunca foi o inimigo principal da maioria das demais supostas “forças progressistas” em condição de disputar de fato a base social popular com o petismo; Lula e o PT sempre foram o adversário a derrotar. Pois as dificuldades de ambos acenderam ambições de hegemonia.

Nos anos 80 o PT beneficiou-se em algum grau por ter obtido sua legalização ainda no regime militar. As siglas históricas da esquerda só conseguiriam após a redemocratização. Não só nem principalmente por isso, mas também por isso, o PT acabou tendo certa vantagem na disputa da liderança em seu campo. Não tem bonzinho na política.

Para além da esquerda, há motivos históricos mais estruturais para uma “frente democrática” ser ideia fora de lugar. Um é a obsolescência final da premissa de haver um empresariado brasileiro ponderável disposto a alianças nacionalistas com o objetivo da coquista de mercados e influência globais, ou ao menos regionais. Um tema para outro texto.

Teorias à parte, o fato é que este segundo turno assiste às forças não petistas, da esquerda e do autodenominado centro, sentadas na arquibancada comendo pipoca, tomando refrigerante e aguardando o desfecho. Bolsonaro, inteligente, ofereceu nesta última semana mais um estímulo, declarou que seu plano é varrer o PT da política.

Se é inteligente dizer, talvez não seja tão inteligente assim fazer. Se Bolsonaro de fato ganhar, que vantagem haverá em trocar um adversário conhecido e sujeito a um potencial longo isolamento, o PT, por um desconhecido e reciclado? Talvez um “centro” liberal mais moderninho, ou uma esquerda reciclada e em nova embalagem.

Seria, desculpem, burrice. Mas a burrice também faz parte do jogo.

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Publicado originalmente no www.poder360.com.br

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