segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Troca de guarda na direita em ascensão. Esquerda sobrevivendo, mas “no osso”.

1) Direita tem melhor resultado eleitoral desde a redemocratização

O primeiro turno fechou uma época e abriu outra nova para a direita. A liderança do bloco mudou de mãos. O liberalismo e o conservadorismo não estão mais sob o jugo dos liberais progressistas e dos social-democratas ditos de centro. Se Bolsonaro vencer daqui a três semanas (e o caminho para ele parece bem mais simples que para Haddad), isso estará sacramentado.

2) Esquerda tradicional recuou “para o osso”, mas sobreviveu

O PT recuou em todas as regiões e só manteve a liderança, e de aliados, no Nordeste. Quatro anos de LavaJato e a perda do poder tiveram efeito sensível. Mas o PT conseguiu manter-se inquestionável no comando de seu campo político e evitou uma catástrofe que abrisse campo a alternativas em seu bloco. Ciro foi neutralizado e Marina, pulverizada.

3) Tendência de renovação confirma-se

Especialmente no Sudeste, a maior região em população e sempre mais visível para o foco jornalístico, o vento renovador sopra mais forte. Também porque os principais alvos da LavaJato do dito centro para a direita concentram-se na região. Se perder em São Paulo e Minas, o PSDB arrisca-se a desaparecer como polo hegemônico da política nacional.

4) Mas os fatores de continuidade e inércia estão bem presentes

A renovação na Câmara foi ligeiramente maior que a metade da Casa, não tão longe assim da tradição. O vento soprou mais forte no Senado. Mas na Câmara três das quatro maiores bancadas são as clássicas. A taxa de reeleição ou eleição de aliados dos governadores caminha para 100% ou quase no Nordeste. O Sudeste é importante, mas o Brasil não é só São Paulo, Rio e Minas.

5) Ter mantido a base social coesa traz um custo político para o PT

O partido decidiu fechar espaço para alternativas à esquerda e compareceu à eleição mais “puro”. Com isso, Haddad conseguiu votação na faixa de índices "duros” de preferência pelo PT. Foi o suficiente para ir adiante. Não se faz omelete sem quebrar ovos. Mas agora o petismo tenta achar um jeito de arrastar não-petistas sem perder substância na esquerda. Complexo.

6) As equações regionais no segundo turno serão heterodoxas

Márcio França foi de Alckmin até agora e precisa de Paulo Skaf e do PT para enfrentar João Doria. Mas Skaf é Bolsonaro. E Dória também, e com mais entusiasmo ainda pelo capitão. No Rio, Eduardo Paes precisa de apoio da esquerda para ter alguma chance, só que é candidato pelo Democratas. Em MG, o tucano Anastasia não ganha a eleição sem um empurrão do PT. Etc.

7) Articulação da base parlamentar vai exigir mágica

Serão duas dezenas de partidos no Senado e três dezenas na Câmara. Se para Haddad a missão será hercúlea, mesmo para Bolsonaro ela estará longe de ser simples. É provável que dos dois lados do espectro haja algum esforço de formação de blocos, o que poderá ajudar. Mas convém não confiar muito na docilidade de um Congresso de sobreviventes e neófitos.

8) As pesquisas foram bem, num cenário muito desafiador

Bolsonaro teve 34% do total do eleitorado. Haddad, 21%. Ciro, 9%. Mais ou menos o detectado pelas pesquisas. As diferenças no voto válido parecem dever-se mais ao fato de o não voto ter dobrado para os 30% verificado na urna. Os americanos contornam esse desvio porque pesquisam também o universo dos “likely voters”, não só os “registered voters".

9) O PT enfrenta uma batalha morro acima no segundo turno. As pesquisas vão mostrar o ângulo do aclive

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