segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Oportunidade de uma hegemonia estável na direita. E um olhar sobre as tendências do futuro.

2022 está mais visível a partir de 2018 do que 2018 visto de 2014. Naquele final de ano Dilma Rousseff fora reeleita e Aécio Neves era o principal líder da oposição e candidato natural ao Planalto. Mas havia uma crise econômica e uma LavaJato no caminho. Depois Dilma foi deposta, e não se elegeu ao Senado agora por Minas. Aécio teve de recuar para a Câmara.

Se não houver surpresas (como é perigosa essa premissa!), Jair Bolsonaro será candidato à reeleição sem desafiantes sérios na direita. Se houver surpresa, o nome virá do bolsonarismo. Podendo vir até da nova sublegenda bolsonarista, o PSDB. Os tucanos foram a Fênix do segundo turno, ao custo de mandar ao arquivo as últimas veleidades “de centro". Mas sobreviveram.

Bolsonaro não tem desafiantes na direita porque a velha guarda do bloco foi aposentada ou jogada às traças, e porque as novas estrelas podem todas concorrer à reeleição em 2022. Caso dos governadores de SP, RJ, MG e GO. Eis por que o novo presidente terá muita dificuldade se quiser acabar com a reeleição para já. Desarrumaria demais a coisa na base natural dele.

Vai saber... No Brasil nem o passado é previsível. Azar de quem vive de fazer previsão. Mas uma tem grande chance de emplacar: a opinião pública vai ser tomada por movimentações sobre uma oposição de centro ao bolsonarismo. Assunto que ocupará tempo e espaço até que sua anemia seja finalmente constatada. Não que isso vá impedir a continuação do sonho.

Acontecerá também na esquerda. Surgirão estímulos para alternativas não petistas. Se o PSB tivesse vencido em SP seria o pivô disso, e Márcio França estaria a caminho de disputar a vaga com Ciro Gomes. Mas perdeu. E Ciro? Dinamitadas as pontes, dependerá da condensação de um antipetismo de esquerda. Não parece muito promissor. Até porque o PT estará na oposição.

Mas vai saber... Hoje o centrismo anda em baixa pelo mundo. A última vítima desse declínio parece ser Angela Merkel, que se debate para continuar agarrada a um poder a caminho de lhe escapar. A crise de 2008/09 vem produzindo coisas parecidas com as trazidas pela sua velha parenta de 1929. Não que o desfecho vá ser o mesmo. Mas também é bom ficar de olho.

Para já, é provável que um bolsonarismo neoempoderado tente reduzir a influência do petismo no Nordeste. Por ser governo tem uma chance. Mas é erro achar que o Nordeste votou com o PT apenas por governismo. Aliás o PT nem governo mais é. O novo regime precisará de políticas concretas contra a pobreza e a desigualdade regional. Vai conseguir fazer sem dinheiro?

Também é provável que a esquerda cresça no Sul/Sudeste, graças inclusive a certos aspectos culturais algo caricaturais do bolsonarismo, e das características do caminho econômico proposto. A não ser que se consiga trazer crescimento econômico com forte criação de empregos de qualidade. Não tem sido a tradição por aqui nas últimas décadas. Mas quem sabe?

O certo é que uma hora o circo da agenda dita comportamental não mais será suficiente, e precisará aparecer o pão, lato sensu. O novo governo receberá uma camadinha de tolerância, mas ainda está por ser medido quanto ela durará. O bolsonarismo vai manter agregada sua base no curto prazo estigmatizando a esquerda, mas uma hora isso não mais bastará.

E tem a política externa. A tendência é uma melhor coordenação entre o Itamaraty e o Departamento de Estado, mas é ingenuidade achar que a atual orientação é responsabilidade do PT. Ela vem desde pelo menos os governos militares, e sobreviveu intocada a todo tipo de alternância após a redemocratização. A disrupção ali vai enfrentar resistência institucional.

É preciso saber quais as vantagens comerciais e outras econômicas que a Casa Branca está disposta a oferecer a Bolsonaro em troca de um maior alinhamento do Planalto. Bom estar atento, para saber disso, às eleições parlamentares ali mês que vem. Se elas reconfirmarem o poder de Donald Trump será um cenário. Mas e se não?

E nunca é prudente subestimar o nacionalismo entre nós. Ele anda meio démodé por causa do desgaste do petismo e da renovada atratividade de uma direita liberal. Mas o nacionalismo está por aí à espera das dificuldades da vida real. Esperando o “novo Brasil” encontrar seu primeiro inverno. Cuja chegada aliás é a única previsão com 100% de probabilidade de acerto.

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