As pesquisas recentes de intenção de voto para 2022 divergem em certo grau na distância entre os principais candidatos, mas algumas constatações são consensuais:
Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva estão bem à frente dos demais tanto no voto espontâneo quanto no estimulado.
Se uma terceira opção conseguir agrupar razoavelmente os insatisfeitos com Bolsonaro e Lula, deve largar de algo entre 10% e 15%.
As margens aqui variam bastante, mas hoje Lula ganharia de Bolsonaro no segundo turno.
Isso se deve principalmente por o presidente, no momento, superar o ex na disputa de mais rejeição.
Pesquisas devem sempre ser lidas com muita prudência,
especialmente quando feitas com tanta distância. Aliás, até levantamentos de
véspera e bocas de urna têm errado mais que o razoável.
Mas pesquisas são um dos únicos instrumentos disponíveis no
voo rumo à pista de pouso da urna no dia da eleição. Em vez de brigar com elas,
trata-se de utilizá-las da melhor maneira possível, o que inclui sempre lembrar
que elas erram.
E é exatamente por isso que existe a chamada “margem de
erro”.
E pesquisas podem até ser mais importantes longe do que perto
das eleições. Elas balizam decisões preliminares relevantes dos atores
políticos centrais.
Um caminho para reduzir a outra margem de erro, não das pesquisas propriamente ditas, mas da interpretação delas, é olhar não no que diferem, mas para o que têm em comum. E se partimos dos levantamentos de avaliação de governo notamos também que:
O ótimo+bom de Jair Bolsonaro deslizou para algo em torno dos 25%, mas o “aprova” continua entrincheirado em um terço do eleitorado. Aliás, se você quer saber a aprovação do governo pergunte exatamente isso. Pois sempre um pedaço do “regular” mais aprova que desaprova. E isso não aparece no ótimo+bom.
E o ruim+péssimo oscila em torno da metade dos eleitores.
É preciso tomar cuidado com a aritmética bruta, pois uma
parte do eleitorado não vota. E no Brasil pesquisas não costumam perguntar se o
eleitor vai comparecer. Diferente dos Estados Unidos, onde se levantam duas
estatísticas: a colhida nos “registered voters” (eleitores registrados) e a nos
“likely voters” (prováveis votantes).
A síntese das pesquisas eleitorais relativas ao presidente,
ao governo federal e à corrida de 2022 está algo clara. Jair
Bolsonaro preserva o market share dele no primeiro turno de 2018, em
torno de um terço do eleitorado (não confundir com os 46% do voto válido). Mas
enfrenta a apatia, a desconfiança ou a rejeição no restante do mercado
eleitoral.
Muito em função de como vem conduzindo as políticas para enfrentar a Covid-19.
As próximas pesquisas deverão medir o efeito dos últimos
acontecimentos na adesão do eleitor bolsonarista ao candidato à reeleição. Inclusive qual
será a reação do núcleo duro da base social dele.
Mas a incógnita-chave é como estará o humor da população ano
que vem, especialmente em meados de 2022. Qual será o peso das consequências
da pandemia, após a vacinação em massa? Em que ritmo estará a recuperação
econômica? Qual terá sido o impacto da possível crise energética decorrente da escassez
de água nos reservatórios? O que vai pesar mais: a crítica aos erros do governo
na Covid-19 ou a euforia por ela, ou a maior parte dela, ter passado?
E quem vai se sintonizar melhor com o humor do povão?
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