A participação do Brasil no evento convocado pelos Estados Unidos para debater o meio ambiente expôs algumas fragilidades da situação brasileira. Elas têm raízes estruturais, fixadas na tensão entre desenvolvimentismo, sempre um vetor em países como o nosso, e ambientalismo, uma pauta global cada vez mais importante. Porém as raízes também residem no cerco a que o governo se permitiu submeter, numa consequência tardia do alinhamento à administração Donald Trump.
Ao longo dos últimos trinta anos, o Brasil vinha conseguindo um equilíbrio cuidadoso, mas sempre com algum grau de conflito, entre as pressões internas para aumentar a produção agrícola e as externas (e em algum grau internas) para congelar a fronteira agrícola e manter essencialmente intocado o bioma amazônico. Com o alinhamento a Trump, conhecido cético do clima, o Brasil imaginou-se de mãos livres para reduzir o risco de uma política mais desenvolvimentista (no campo) que ambientalista.
Mas Trump perdeu a eleição para Joe Biden, e além do mais o Brasil meio que se intrometeu na confusão pós-eleitoral dali, e do lado perdedor. O que, com o tempo, vem criando as condições ideais para uma aproximação entre as várias oposições brasileiras e o novo establishment político norte-americano. E agora a administração Bolsonaro precisa operar uma espécio de retirada sob cerco e fogo inimigos, sempre uma manobra que exige grande perícia e, por que não?, sorte.
O grande empresariado brasileiro quer do governo que a política ambiental não atrapalhe os negócios com os Estados Unidos e a Europa, num momento em que o real fraco é o passaporte da prosperidade para o setor exportador da economia. Mas Jair Bolsonaro precisará equilibrar-se entre isso e os afagos à base eleitoral dele, nutrida no discurso anterior. Não é impossível, mas vai exigir perícia e boa condução. Um desafio operacional.
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