É natural que o chefe da agência de vigilância sanitária possua algum grau de autonomia e possa agir com alguma independência em relação ao governo e ao comandante do Executivo, pois tem mandato e é indemissível. Diferente, por exemplo, da situação do ministro da Saúde, que navega em águas políticas mais turbulentas. A diferença ficou expressa no grau de liberdade com que ambos se moveram diante da máquina de moer carne da CPI.
Aliás, toda CPI é um triturador de biografias. A missão resume-se a sair inteiro do outro lado.
O presidente da Anvisa beneficia-se também de um certo tratamento reverente prestado à burocracia estatal, ou "funções de Estado". É um traço cultural brasileiro.
Mas se o presidente da Anvisa conseguiu erguer barreiras argumentativas tecnoburocráticas que por enquanto o protegem no caso do veto à Sputnik V, acabou for fornecer à oposição na CPI argumentos em outra frente, ao endossar a desrecomendação do uso de certos medicamentos no tratamento da Covid-19, inclusive nas fases iniciais. E terminou por reforçar os desejos de reconvocar o titular da Saúde, ao qual isso certamente será (re)perguntado.
Enquanto o teatro da CPI vai em seus primeiros atos, continua o desafio das vacinas. Há escassez da CoronaVac para aplicação da segunda dose, a AstraZeneca acaba de ter suspensa a aplicação em grávidas (leia), a Pfizer chega a conta-gotas. E a dúvida é se o ritmo da vacinação será suficiente para ajudar decisivamente a quebrar a segunda onda de casos e mortes e impedir a ascensão de uma terceira, trazida por novas variantes.
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