O depoimento do presidente do Butantan, Dimas Covas, acrescentou mais peças ao já previsto relatório final da CPI que, se aprovado, irá apontar atos do governo federal que retardaram o início da vacinação no Brasil contra a Covid-19. As informações dadas por Covas juntam-se, portanto, às prestadas pelo executivo da Pfizer sobre as idas e vindas da negociação com o Ministério da Saúde.
O governo tem a favor dele o argumento, exposto novamente hoje pela ala governista da CPI, de o Brasil ser um dos países que mais vacinam contra o SARS-CoV-2, o quarto em números absolutos e o primeiro entre os não produtores de vacinas para a doença. É um fato. Outro fato: cerca de metade das vacinas até agora ministradas são CoronaVac.
Junto com a Cloroquina, as vacinas são o caminho buscado pela CPI para ao final tentar incriminar o presidente da República. Isso será mais complicado de alcançar no caso do medicamento, pois há legiões de médicos prescrevendo. Inclusive porque o Conselho Federal de Medicina deixou a decisão de administrar ou não drogas contra a Covid-19 a cargo unicamente dos profissionais.
Mas na esfera das vacinas vai ficando evidente que o governo acabou por criar um problema jurídico-político para si mesmo. Por, no mínimo, ter tratado o assunto de modo rotineiro, sem senso de urgência, e aparentemente sem imaginar que um dia viria a ser cobrado por isso. Provavelmente por subestimar o impacto que a epidemia poderia ter aqui no Brasil.
Não trabalharam com a possibilidade do pior cenário e agora correm atrás.
E teve também, claro, o componente político, a disputa com o governador de São Paulo. E mais um aspecto, ainda não explorado na CPI: de quem foi a decisão de apostar numa única vacina, a da AstraZeneca/Fiocruz? A explicação dada até o momento envolve a transferência de tecnologia. Mas por que não contrataram para importação todas as vacinas possíveis enquanto não as produzíssemos em número suficiente por aqui?
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