O front da Comissão Parlamentar de Inquérito vem se mostrando desfavorável ao presidente da República. Um sintoma: o esforço principal dos apoiadores do governo não tem sido para defender as ações presidenciais, mas para buscar enfraquecer a legitimidade dos depoentes críticos do chefe. Transcorreu, entretanto, apenas uma semana, dos noventa dias previstos (prorrogáveis por mais noventa). Dias melhores, e piores, certamente virão.
A resposta do Planalto, aparentemente, é dobrar a aposta. Tendência refletida, entre outras coisas, nas sucessivas declarações de Jair
Bolsonaro sobre o eventual decreto contra as medidas de isolamento social. Se
se materializar, certamente enfrentará obstáculos judiciais. A dúvida é sobre
como, e se, reagirá o Congresso Nacional. De todo modo, a manobra seria útil ao propósito de dividir as atenções com os depoimentos e revelações
da CPI.
Ainda que uma derrota nessa frente do decreto anti-lockdown possa produzir efeito-bumerangue.
A primeira semana não trouxe nada além do previsto, ainda
que este “previsto” já fosse suficiente para gerar alguma turbulência. Quem tinha de
atacar, atacou. Quem tinha de defender, defendeu. Mas não houve fato novo
relevante, um daqueles de arrancar manchetes e abrir telejornais. Como o
governo agiu sobre a cloroquina e sobre as vacinas? Já se sabia. Agora, a
esperança de surgir um fato novo foi transferida para adiante. Para os próximos depoimentos.
Com especial curiosidade para o que dirão o ex-secretário
de Comunicação e o antecessor do atual ministro da Saúde. Sobre os dois focos de atenção da CPI até o momento: as vacinas e a cloroquina. E um ponto é se, e como, ambos vão defender o presidente. Pois em última instância é isto que interessa à maioria da CPI: ela não está atrás de peixes pequenos, ou de ex-peixes, mas do chefe do cardume. CPIs têm ferramentas da polícia, mas são instrumentos políticos.
Atenção também para a eventualidade de se desencadearem operações contra os governadores. O que eleveriaainda a temperatura, mas dificilmente teria por si só a capacidade de inverter a matemática da CPI a favor do governo federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário