Vitoriosas as candidaturas apoiadas pelo Planalto na eleição das mesas do Congresso Nacional, abriu-se o debate sobre a solidez da aliança entre Jair Bolsonaro e o assim chamado centrão. O discurso corrente é o pacto tender à fragilidade, pela contradição entre o programa liberal e austero, capitaneado pelo ministro da Economia, e uma dita tendência gastadora e estatista da coalizão parlamentar vencedora em 1º de fevereiro.
Ou seja, o vetor dominante seria de instabilidade.
Antes de entrar nessa discussão, vale notar que a “frente ampla”
antibolsonarista mostrou bem mais vigor nas páginas da cobertura política pré-eleitoral
do que na urna eletrônica propriamente dita. Arthur Lira (PP-AL) teve cerca de quinze
a vinte votos além do que lhe davam as medições mais calibradas, mas Baleia
Rossi (MDB-SP) recolheu no mínimo uns cinquenta a menos. Que provavelmente
vazaram na maior parte para candidatos sem chance.
Ao final, a esmagadora maioria dos votos de Rossi vieram dos
partidos “de oposição mesmo”, da esquerda e da rotulada centro-esquerda. A
direita e a assim chamada centro-direita ficaram com Lira. A ideia de uma
coligação tática entre, vamos simplificar, a esquerda e setores
antibolsonaristas da direita não passou nem da fase de grupos neste primeiro
teste. E aí irrompeu, como habitual, a explicação mais fácil: as verbas e os
cargos.
E disso nasceu a suposição de que a união entre o
presidente da República e a maioria reunida em torno de Lira e Rodrigo Pacheco
(DEM-MG) [o Senado não tem tanta utilidade assim para a análise, pois ali
até o PT apoiou o vencedor] é frágil, baseada apenas na troca de favores. O
futuro dirá, mas essa visão corre o risco de estar mais influenciada pela insatisfação
com o desfecho da refrega do que pelos fatos à disposição do analista.
Por falar neles, os fatos, um é que a Câmara tem hoje, como
vem tendo tradicionalmente, pelo menos dois terços de deputados eleitos do ponto médio para a direita, sobrando um terço para o outro campo. Como alguns segmentos
da direita apoiavam os governos petistas em troca de espaço na
Esplanada e poder sobre recursos orçamentários, floresce a teoria de que seriam
parlamentares, digamos, sem lado, sem cor ideológica.
Será? Um problema sério
da candidatura Baleia Rossi foi deputados do MDB, DEM e PSDB precisarem administrar nas
suas bases estar aliados ao PT e à esquerda. Isso ajudou a induzir à ruptura do
Democratas e quase levou à ruptura do PSDB. Aliás, basta relembrar qual tinha
sido o clima nos municípios em que emedebistas, tucanos e demistas tiveram de
enfrentar adversários da esquerda no ainda recente novembro de 2020.
Notou-se também na segunda feira, abertos os resultados, que
se a oposição de verdade tivesse lançado um candidato do seu bloco possivelmente teria
ficado em segundo lugar. E se houvesse segundo turno teria perdido nele para
Lira. Aliás, o apoio da esquerda a Rossi foi explicado também pela
impossibilidade de o chamado centro votar na esquerda. No fim, ele votou
mesmo foi de cara no candidato do governo. Um banho de realidade.
A força centrípeta exibida pelo bolsonarismo na eleição das mesas deveria produzir alguma cautela nas previsões de instabilidade na relação com o Congresso. Se a popularidade de Bolsonaro não descer pelo ralo, a tendência é o presidente ir ao segundo turno em 2022 (na hipótese de haver dois turnos). Isso dá a ele uma expectativa de poder que serve de ímã. E não haveria dificuldade maior de a massa parlamentar acoplar-se a Bolsonaro na eleição.
O que poderia instabilizar essa fórmula? O surgimento, do
outro lado, de uma força eleitoral capaz de expressar possibilidade real de
poder. A correlação de forças está à espera desse adversário. É como a política funciona.
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