Eleições municipais precisam sempre ser vistas, antes de
tudo, pelo ângulo local. Dito isso, é razoável tentar fazer a leitura do que elas
podem antecipar sobre os caminhos da eleição geral, daqui a dois anos. Uma análise
possível de ser feita a partir das situações em que os campos estiveram mais
claramente expostos ao eleitorado. E as urnas do segundo turno de 2020 deixaram
claro que cada um dos grandes blocos tem seu caminho para triunfar em 2022.
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, mostraram bem o
potencial de candidatos ditos centristas que procuraram se descolar da direita mais
explícita. No Rio com mais facilidade, por o postulante do Democratas carregar
um histórico de alianças com a esquerda. Mas mesmo em São Paulo isso funcionou
em algum grau. A disputa ajudou a passar momentaneamente uma borracha na
memória do “BolsoDoria”.
As duas megalópoles mostraram também que, mesmo nos centros
nevrálgicos do bolsonarismo de dois anos atrás, a esquerda e o centrismo dito
de esquerda voltaram a mostrar competitividade. Mais em São Paulo, onde a
convergência se acelerou ainda no primeiro turno. Mas também no Rio, onde a soma
dos resultados das candidaturas do PT, PSOL e PDT tinha claro potencial de
passagem à decisão.
O cirismo tem seus bons trunfos para uma eventual mesa rumo
à sucessão presidencial. Montou candidaturas competitivas em São Paulo e Rio,
que não chegaram ao segundo turno mas exibiram massa crítica, e provou-se capaz
de agregar com alguma naturalidade a frente progressista em Fortaleza. E operou
uma aliança sólida no centro nevrálgico do PSB, em Pernambuco. Isso certamente
será levado em conta lá na frente.
O Democratas já tinha ido bem no primeiro turno, assim como
os partidos do chamado centrão, que cresceram no plano municipal num grau que
permite antecipar a força deles na próxima legislatura na Câmara dos Deputados.
Serão parceiros cobiçados na corrida de 2022, ainda que dinheiro e tempo de
televisão não sejam mais tão decisivos quanto eram antes de 2018. Mas sempre
têm sua importância. E musculatura política nunca é demais.
Na esquerda, a ida de numerosos candidatos aos segundos
turnos e a competitividade em cidades tão diferentes como Porto Alegre, São
Paulo, Vitória, Recife e Belém mostrou que o jogo está aberto para as forças
ditas progressistas para um protagonismo próprio em 2022. A novidade é que o PT
vai precisar negociar, pois seu direito de indicar o candidato não é mais
automático, longe disso.
Sem um acordo prévio, é real a possibilidade de a esquerda
ficar fora do segundo turno.
Pois nunca se deve esquecer que o bolsonarismo mostrou nas
eleições estar bem vivo. Teve dificuldades nos segundos turnos, mas colocou
candidatos competitivos em vários lugares e o presidente mantém seu um terço de
bom e ótimo e cerca de 40% de aprovação. E isso o coloca, se mantidos os
índices, com um pé e meio no segundo turno daqui a dois anos. E ele ainda tem a
possibilidade real de aliar-se com os partidos do dito centrão.
Por isso, por enquanto, a disputa que existe é para saber quem vai ser o adversário dele.
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