sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O que não aconteceu e o que aconteceu, até agora, do que foi previsto para esta eleição

1) Não se comprovou por enquanto a força do chamado lulismo

Haddad chegou facilmente ao patamar de 20% e vem mostrando neste primeiro turno boa dificuldade para chegar aos 30% que as pesquisas apontam ser o estoque de eleitores dispostos a votar com certeza num candidato apoiado pelo ex-presidente Lula.

2) Comprovou-se a força do PT

Todas as pesquisas apontam que o partido tem a preferência de pelo menos 20% do eleitorado. Era previsível, e foi previsto, que um candidato do PT teria caminho relativamente livre para chegar a isso. E de fato chegou. O PT é a única força eleitoral clássica expressiva que consegue nesta eleição evitar o desmoronamento de sua base de apoio.

3) Não se comprovou a essencialidade do tempo de TV

Dos candidatos com desempenho satisfatório neste primeiro turno, Bolsonaro, Haddad e Ciro, dois não tiveram tempo de TV expressivo. Um candidato que desempenha muito abaixo da sua “votabilidade”, Alckmin, teve a fatia mais generosa do horário eleitoral compulsório.

4) Comprovou-se a essencialidade do tempo de TV

O principal fator que impede, por enquanto, uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno é o PT reter seus 20% de share. Para isso, foi essencial uma comunicação maciça que alavancasse rapidamente Haddad e evitasse o avanço de predadores sobre o eleitorado petista. Só foi possível com o significativo tempo de TV.

5) Não se comprovou a viabilidade de um “centro"

O “centro” era só a tentativa de uma embalagem moderada para o antipetismo. Quando a coisa apertou, foi para a direita sem maiores dificuldades. Faça-se justiça a Alckmin: ele comprou a ideia e teve uma comunicação para buscar o eleitor “de centro”. Como este era uma miragem, o tucano vai ter poucos votos.

6) Comprovou-se que existem direita e esquerda

Ao contrário das frequentes teses a respeito, a divisão entre direita e esquerda não acabou. Se houver segundo turno, a partição ficará ainda mais nítida. Metade do país vota com a esquerda contra a direita e a outra metade com a direita contra a esquerda. Vai ganhar a eleição, agora ou daqui a três semanas, quem for mais capaz de fazer sua base votar.

7) Não se comprovou que esta eleição poderia assistir a um debate mais qualificado

Existia a esperança de que depois de mais um assim chamado “estelionato eleitoral”, em 2014, houvesse alguma evolução civilizatória do debate nas eleições deste ano. De novo, só se discutiram as pesquisas e quem ataca quem. No Brasil, quando se trata de questões civilizatórias, os pessimistas sempre tendem a ter alguma razão. Basta esperar tempo suficiente.

8) Comprovou-se que empresas de pesquisa falarem mal umas das outras é arriscado

Pesquisas erram, por isso têm “margem de erro". E também acertam, e por isso as pessoas importam-se com elas. Evitar falar mal de uma pesquisa ajuda a evitar também que se passe vergonha quando teu resultado se aproxima do resultado da pesquisa que tu criticaste. Porque nas pesquisas, como nos demais aspectos da vida, nunca se sabe o dia de amanhã.

9) Comprovar-se-á o velho ditado de que da mineração, de cabeça de juiz e de urna nunca se sabe exatamente o que vai sair, mesmo que as pesquisas e os estudos ofereçam bons elementos para as previsões

Um comentário:

  1. Acho que a TV manteve relevância. Foi a TV que ergueu Haddad, como diz o Alon. A TV de Alckmin estava moendo Bolsonaro até o episódio da facada. Com a facada, Bolsonaro ganhou a TV que não tinha, em volume muito superior ao horário eleitoral, com qualidade positiva (vítima de violência) e manteve a sua relevância. Ciro manteve seu patamar com pouca TV e isso em parte se explica pelo fato de ele não ter sido atacado. Marina, sem TV, esvaziou, mesmo sem ataque. É evidente que as redes sociais se tornam cada vez mais relevantes, mas a força de comunicação proponderante ainda parece ser a TV. Mas nada substitui a política e a identificação do candidato com os anseios do momento -- e é essa a construção política de Bolsonaro.

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