sexta-feira, 28 de agosto de 2020

O limite da mesmerização

Na medida em que a política se judicializa, a Justiça politiza-se. Ou partidariza-se. Se alguém interfere na realidade para modificá-la, acaba também modificado por ela. Mas é melhor olhar essas coisas com certa frieza, enxergá-las como um dado da realidade. E buscar as decorrências. Por exemplo: qual será desta vez o papel da "luta contra a corrupção" no processo eleitoral que vem aí?

Uma aposta é que a onda da "faxina" vista em 2018 vai continuar. Seria lógico, até pela lei da inércia. Mas tem um problema. O empoderamento absoluto de juízes e procuradores produziu seu efeito colateral. A rotinização. Todo mundo ou quase todo mundo da política acabou -- ou acabará -- tomando algum tiro, proposital ou de bala perdida. Olhe em volta. Difícil achar quem não tenha pelo menos uma cicatriz.

Ainda sobre as tensões, está claro que o show precisa continuar, mas vai ficando também claro que o público parece meio cansado da repetição do espetáculo. Talvez estejamos chegando a um certo limite da mesmerização, da hipnose coletiva. Com o jogo meio que assim zerado, talvez a pergunta da hora na cabeça do povão venha a ser "afinal, quem é o mais capaz de começar a resolver meus problemas?".

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