sábado, 25 de abril de 2020

Teatro do absurdo

No filme O Show de Truman, de 1998, o personagem de Jim Carrey tem, sem saber, sua vida transmitida para o mundo todo. Interessa para esta análise o final: uma hora o público se cansa e muda de canal.

Noutro filme, de cinco anos antes, O Feitiço do Tempo, que deveria chamar O Dia da Marmota, o personagem de Bill Murray fica preso numa repetição diária do dia anterior.

Aparentemente, o público está se cansando na rotina macabra da Covid-19. Aqui e lá fora. As mortes incorporaram-se ao cenário e deixaram de ser notícia, a não ser quando o recorde de números é a novidade, ou talvez quando algum famoso infelizmente vem a falecer. No mais, são dias da marmota.

Cansado, o público é atraído para outro show: o divórcio Moro-Bolsonaro. O problema é que, mais infelizmente ainda, as UTIs dos hospitais públicos por aqui parecem perigosamente no limite. E a nova queda de braço não eliminou a anterior: os políticos continuam brigando enquanto o povão dá de ombros e simplesmente tenta voltar a alguma normalidade.

Em pleno drama, o país parece apreciar mesmo o teatro. Do absurdo.

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